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Desorganização dificulta crédito para PMEs; veja como evitar 'armadilhas'

Desorganização da dados, informalidade e falta de projeto são exemplos.

Autor: Gabriela GasparinFonte: G1

Antes de conceder um empréstimo, o banco analisa se a empresa vai conseguir pagar o dinheiro de volta e ainda honrar as demais contas. Informações que permitam à instituição financeira fazer o cálculo desse retorno são requisitos essenciais para a concessão de crédito, esclareceu na quinta-feira (25) Milton Luiz de Melo Santos, diretor-presidente da Desenvolve-SP, agência de fomento paulista, em palestra em São Paulo promovida pelo clube de negócios WTC Business Club, integrante da rede World Trade Center Association.

“Você vai nos apresentar os dados da sua empresa, nós vamos analisar, vamos verificar qual é a sua capacidade de pagamento, de geração de caixa, e vamos comparar isso com o que seu projeto está se propondo a fazer. Eu analiso seu passado, com base nos dados, e analiso o seu futuro, com base no seu projeto. A combinação desses números tem que mostrar para a gente que [o empréstimo] é viável”, explicou.

O G1 lista os principais fatores citados por Santos que dificultam pequenos e médios empresários na hora de conseguir um empréstimo na agência.

1) Falta de um projeto sólido
Não adianta enrolar: antes de pedir um empréstimo no banco, o empreendedor precisa ter um projeto sólido, com informações sobre a empresa, para que será o empréstimo, como será usado o dinheiro e qual é a previsão de crescimento do faturamento com o financiamento concedido.  “O empreendedor às vezes sabe que precisa de dinheiro, mas ele não pega o crédito de acordo com a maturação do seu investimento. Aí ele começa a ter problemas na gestão do seu negócio”, afirmou Santos.

2) Desorganização
Santos disse que não basta ter vontade e “idealismo”, o empresário tem que ter profissionalismo. “Na pequena empresa, a organização é fundamental para superar os primeiros anos de vida.” Por isso, ele citou que os dados da empresa, documentos e arquivos precisam estar organizados, de forma que o empresário consiga ter a informação correta na hora que o banco solicitar.

“Às vezes, a gente vai na junta comercial e a informação da empresa não está atualizada (...). Nós nos deparamos muito, muito mesmo, com informação totalmente desalinhada em relação ao que um agente necessita para poder analisar e fazer a concessão de crédito. (...) O empresário não está acostumado com sua organização interna de dados e informações. Ele é muito determinado em aumentar as vendas, em procurar se tornar mais competitivo, mas esquece a sua retaguarda, a parte da organização da documentação e das informações para que ele possa acessar as linhas de financiamento.”

3) Ausência de garantias
Um dos obstáculos, segundo Santos, para a concessão de crédito, são as garantias de patrimônio. “As pequenas empresas têm dificuldade muito grande de oferecer garantias de patrimônio. Essa ausência muitas vezes aborta um processo de crescimento, esse é um obstáculo.”

Nesses casos, Santos explicou que existem fundos garantidores para apoiar, se preciso, os pequenos empreendedores. “Se você não tem nenhum imóvel para dar garantia, imediatamente indicamos a contratar um fundo”, disse.

4) Informalidade
O especialista explicou que muitas empresas se acostumaram a usar o “jeitinho brasileiro” no dia a dia, um hábito gerado em decorrência do período de altos índices de inflação e que está enraizado em muitas organizações. Segundo ele, os empresários se acostumaram a esconder informações para pegar menos impostos.

“A informalidade é muito grande no nosso universo de pequenas empresas, e ela não combina com a formalidade de um agente financeiro, que precisa ser formal, por um processo de fiscalização do Banco Central. Não podemos abrir mão porque vamos ser penalizados por conceder operação de crédito sem que siga o processo de investigação e averiguação dos dados dos nossos clientes (...). Muita vezes o empresário pede ao contador, ele coloca um monte de coisa, e muitas vezes quando a gente vai checar, não tem consistência. Aí infelizmente a coisa não anda.”

5) Acúmulo de dívidas
Muitas vezes o empresário já tem dívidas acumuladas para projetos antigos e não é viável pegar um novo empréstimo antes de terminar de pagar o antigo – a não ser que o empreendedor prove, com números, que terá dinheiro para as duas coisas. “Às vezes, as empresas que vão nos procurar estão com uma situação de passivo financeiro muito desarrumada, com uma séria de compromissos de curto prazo para pagar (...). Dependendo, não tem problema nenhum [acumular mais de uma dívida], porque eles têm margem, comportam aumentar o endividamento.”

Nos casos em que não há essa margem, Santos explica que é possível trocar o empréstimo antigo por um mais barato (para capital de giro) e sanar as dívidas contraídas anteriormente antes de iniciar o novo financiamento. "Pode valer a pena pegar um capital de giro, pagar as dívidas mais caras, dar uma equilibrada no fluxo de caixa e daqui um ano, dois anos, ele volta para pegar o financiamento do [novo] projeto.”

6) Inadimplência
Para conseguir um empréstimo, a empresa também não pode estar inadimplente. “Vamos primeiro ver se a empresa não tem títulos protestado na praça, se não tem dívidas vencidas, vamos ver o seu comportamento passado do ponto de vista como empresário (...). Faço uma pesquisa no Banco Central, checo as informações na Serasa”, afirmou.

7) Dívidas tributárias
O especialista explicou que possuir dívidas tributárias pode ser um empecilho na hora da concessão de crédito, o que muda de acordo com a instituição financeira. “Nós somos uma instituição do estado. A primeira coisa que olho é se a empresa está inscrita na dívida ativa por conta do não recolhimento do ICMS, aí eu não vou poder [conceder o empréstimo]. Mas se você estiver num programa de parcelamento tributário, está absolutamente normal”, explicou. Ele disse, por exemplo, que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não concede financiamento caso o empresário não esteja com o pagamento dos impostos federais em dia.

8) Falta de planejamento
Muitas vezes, na hora do aperto, o empresário recorre a um empréstimo de última hora para dar conta de imprevistos, o que não é recomendado, diz Santos. “Ele vai no seu banco, onde paga os funcionários, vai no gerente e fala ‘estou precisando de um crédito porque estou no sufoco, meu cliente deixou de pagar’, e pega o crédito mais caro, que não é o credito mais inteligente”, explica. “Você vai pagar caro pela sua desorganização.”